Renato Francisco
Desde a instituição da Jornada Mundial da Juventude pelo
Papa João Paulo II, em 1985, milhares de jovens já tiveram a oportunidade de
participar de uma JMJ e, hoje, dão testemunhos sobre a experiência única de estar
presente no maior encontro católico da juventude. Uma dessas pessoas é o padre
Jorge Luiz Neves, mais conhecido como padre Jorjão, que é dirigente espiritual de
um grupo de quase 800 jovens da Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema.
Figura muito presente no meio da juventude carioca, o padre participou de todas
as JMJs, exceto a de Filipinas. Em entrevista para o blog Por dentro da JMJ, padre Jorjão conta as suas experiências nestes encontros da juventude,
destaca porque os jovens devem participar da Jornada e revela quais as transformações
que a JMJ propiciou para sua vida.
Por dentro da JMJ: Como o senhor sentiu o chamado para ir à
Jornada Mundial da Juventude?
Padre Jorjão: Eu fui à Jornada quando ainda não era Jornada.
Eu fui no ano santo do Grande Jubileu em 84. O Santo Padre, Papa João Paulo II,
proclamou o Ano Santo da Redenção, o jubileu dos 1950 anos da Paixão, Morte e
Ressurreição de Jesus. Começou na Semana Santa de 83 e terminou na Páscoa de
84.
Durante este ano, houve várias peregrinações: das crianças, das famílias,
dos padres, das religiosas, dos atletas, e assim por diante. E teve uma data
marcada, que foi a peregrinação dos jovens, no Domingo de Ramos de 84, no
finalzinho do jubileu. Nesse ano, minha família me deu de presente ir à Roma
para esse jubileu. Fiquei poucos dias e experimentei a alegria de conviver com
jovens do mundo inteiro. Não era tão grande como é hoje. Eu esperava uns 50 mil
e foram 300 mil jovens. Foi uma experiência muito bonita e marcante porque
naquela época falava-se que os jovens estavam indo para longe da Igreja. Havia
uma Cruz que o Papa mandou fazer, uma Cruz muito simples, na Basílica de São
Pedro, recordando a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. E os jovens saíram
com essa Cruz pelas ruas de Roma, com velas acesas. Até hoje aquela experiência
me deixa impresssionado e arrepiado. Eu era muito jovem, tinha 22 anos. Senti
uma alegria da fé daqueles jovens todos, aquela coisa diferente. Lembro que os
jovens fizeram um pedido ao Santo Padre para que aquela experiência não
terminasse. No ano seguinte, o Papa de novo convocou os jovens à Roma e disse
que estava criando a chamada “Giornata Mondiale della Gioventù”, o Dia Mundial
da Juventude, que seria sempre celebrado no Domingo de Ramos. Ou seja, esses
encontros que o Papa proclamava eram anuais. Todo Domingo de Ramos era a
Jornada da Juventude. Mas, a cada dois anos, ele seria celebrado num país do
mundo. E eu estive presente nesses encontros. O primeiro seria, então, em Buenos
Aires. Em Denver, nos EUA, a adoração que os jovens faziam era algo de uma
beleza incrível. Aqueles jovens americanos tinham uma fé impressionante. Só não
pude ir na de Filipinas. Desde então, esses encontros marcaram profundamente a
minha vida como jovem e me deram mais desejo de me tornar sacerdote.
Por dentro da JMJ: Qual foi a JMJ mais marcante para o senhor?
Padre Jorjão: Foi a de Roma. Eu acho que foi a mais bonita
de todas porque era um ano santo. Era algo de inesperado a todos nós: o ano
2000. O Papa fez questão de preparar o ano 2000 de modo muito solene. Havia
toda a expectativa para aquele ano. Imagine você entrar na porta santa da
Basílica de São Pedro no ano 2000. Dois mil anos celebrando o nascimento de
Cristo. Era uma coisa linda porque os jovens tiravam as sandálias, beijavam o
portal da porta santa, choravam. Aquelas bandeiras do mundo inteiro estavam lá
na Coluna de São Pedro. Aquelas coisas me impressionavam. Eu me lembro que na
véspera fiquei meio adoentado, com conjuntivite. Na sexta-feira, a médica me
disse que eu não podia ir. Mas, eu falei “Eu vou!” e fui. E, impressionante, a
conjuntivite desapareceu. Os jovens foram na frente, no sábado. Vi que na
multidão não tinha telefone celular, e não sei como encontrei os jovens. Era um
campus universitário. Foi uma experiência impressionante. Estava um calor de
uns 44 graus. E, naquela JMJ, o Papa João Paulo II disse para os jovens: “Se
vocês forem aquilo que devem ser, vão incendiar o mundo”.
Por dentro da JMJ: Por que os jovens devem participar da Jornada
Mundial da Juventude?
Padre Jorjão: O jovem gosta de emoções fortes, como os
esportes radicais. Busca sempre novas emoções. Mas, são emoções que passam. Ver
um show do “U2” hoje, depois um show do Paul McCartney, depois outro show e
outro show... Isso não tem como preencher a sede de sentido que ele tem no
coração. A JMJ é uma emoção que não passa, mas permanece, que encontra Aquele
que é o sentido verdadeiro, porque todo desejo, toda fome de existência tem uma
motivação. Santo Agostinho dizia: “Senhor tu me criaste para Ti e meu coração
está inquieto e encontra repouso em Ti”. Essa inquietude que o jovem tem, no
fundo, é sede de Deus, como diz o salmo: “A minh'alma tem sede de Deus”. Quando
ele encontra Deus em sua vida, ele encontra a emoção, que não é passageira,
periférica e transitória, mas aquela que fica para a vida inteira, condiciona a
sua existência e dá sentido a sua vida. Uma coisa é encontrar pessoas
interessantes, que você acha legal, tudo bem, beleza. Outra coisa é encontrar a
pessoa da sua vida, a mulher ou o homem da sua vida. Muda radicalmente. Mas,
mesmo assim, o ser humano continua sedento. Porque o homem tem uma medida que
somente Deus pode saciar. Quando ele olha as pessoas em Deus, ele sabe perdoar
e aceitar as limitações e dificuldades, como ele também tem. Ou seja, só quando
você coloca Deus no lugar dele, no centro do seu coração - “Amar a Deus sobre
todas as coisas” - é que você vai amar as pessoas que fazem parte da sua vida.
Enquanto o homem não encontra Deus, é um náufrago perdido em busca do porto
seguro. É uma pessoa vazia, que não encontrou o seu norte. Só quando você
encontra Deus é que sua vida ganha sentido de verdade. Então, essa experiência
da Jornada vai ser uma grande oportunidade para os jovens encontrarem o sentido
da sua vida. Vai ser uma emoção impressionante porque serão outros jovens que
vão falar com o rosto e com a vida que encontraram esse sentido. Eu tenho
certeza que vai ser uma experiência muito forte para as novas gerações.
Por dentro da JMJ: Qual o legado que a JMJ pode trazer para a
cidade do Rio de Janeiro e para o nosso país?
Padre Jorjão: Pessoas renovadas, jovens que não vão
envelhecer quando chegarem a minha idade, porque a gente é sempre jovem quando
encontra o segredo da juventude verdadeira. É um desejo do ser humano ser jovem
para sempre. A juventude é uma fase da vida, que passa. Mas, se você guardar o
ideal dela, você será sempre jovem. A Jornada vai ser uma oportunidade desses
jovens encontrarem o segredo da eterna juventude, que se encontra em Deus.
Por dentro da JMJ: E quais os resultados que a JMJ deixou na sua
vida?
Padre Jorjão: A JMJ me deixou esse desejo de ser um padre
que sempre se reinventa, sempre procurando ser um novo padre, com novos
métodos, novos caminhos. Como João Paulo II, que aos 85 anos, era um Papa jovem
e que ainda hoje é um símbolo para a juventude. Nunca me esqueço que, em Paris,
o Papa estava doente. Havia dúvidas se ele viria ao Brasil. Dois anos depois
apareceu numa revista: “O Papa João Paulo II vem ao Brasil”. Em Paris, aqueles
jovens diziam: “Santo Padre, o senhor é nossa juventude!” De fato, durante mais
de 10 anos, ele foi escolhido como a personalidade mais amada pela juventude
européia. Um homem de bengala na mão, que balançava a bengala como “Carlitos”. Um
homem jovem, que mostra que a juventude não é uma contagem cronológica da
idade, mas um estado de alma. E era bonito ver na missa antiga em latim quando
o padre subia no altar e dizia as palavras do salmo. Ele dizia “Eu subirei ao
altar do Senhor. Ao Deus que alegra a minha juventude”. Aquele homem era um
jovem que encontrou o sentido da vida dele e por esse sentido se consumiu até o
final.
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