sexta-feira, 14 de junho de 2013

“A JMJ é uma grande oportunidade para os jovens encontrarem o sentido da sua vida”, diz padre Jorjão

Renato Francisco

Desde a instituição da Jornada Mundial da Juventude pelo Papa João Paulo II, em 1985, milhares de jovens já tiveram a oportunidade de participar de uma JMJ e, hoje, dão testemunhos sobre a experiência única de estar presente no maior encontro católico da juventude. Uma dessas pessoas é o padre Jorge Luiz Neves, mais conhecido como padre Jorjão, que é dirigente espiritual de um grupo de quase 800 jovens da Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Figura muito presente no meio da juventude carioca, o padre participou de todas as JMJs, exceto a de Filipinas. Em entrevista para o blog Por dentro da JMJ, padre Jorjão conta as suas experiências nestes encontros da juventude, destaca porque os jovens devem participar da Jornada e revela quais as transformações que a JMJ propiciou para sua vida.

Por dentro da JMJ: Como o senhor sentiu o chamado para ir à Jornada Mundial da Juventude?
Padre Jorjão: Eu fui à Jornada quando ainda não era Jornada. Eu fui no ano santo do Grande Jubileu em 84. O Santo Padre, Papa João Paulo II, proclamou o Ano Santo da Redenção, o jubileu dos 1950 anos da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Começou na Semana Santa de 83 e terminou na Páscoa de 84.
Durante este ano, houve várias peregrinações: das crianças, das famílias, dos padres, das religiosas, dos atletas, e assim por diante. E teve uma data marcada, que foi a peregrinação dos jovens, no Domingo de Ramos de 84, no finalzinho do jubileu. Nesse ano, minha família me deu de presente ir à Roma para esse jubileu. Fiquei poucos dias e experimentei a alegria de conviver com jovens do mundo inteiro. Não era tão grande como é hoje. Eu esperava uns 50 mil e foram 300 mil jovens. Foi uma experiência muito bonita e marcante porque naquela época falava-se que os jovens estavam indo para longe da Igreja. Havia uma Cruz que o Papa mandou fazer, uma Cruz muito simples, na Basílica de São Pedro, recordando a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. E os jovens saíram com essa Cruz pelas ruas de Roma, com velas acesas. Até hoje aquela experiência me deixa impresssionado e arrepiado. Eu era muito jovem, tinha 22 anos. Senti uma alegria da fé daqueles jovens todos, aquela coisa diferente. Lembro que os jovens fizeram um pedido ao Santo Padre para que aquela experiência não terminasse. No ano seguinte, o Papa de novo convocou os jovens à Roma e disse que estava criando a chamada “Giornata Mondiale della Gioventù”, o Dia Mundial da Juventude, que seria sempre celebrado no Domingo de Ramos. Ou seja, esses encontros que o Papa proclamava eram anuais. Todo Domingo de Ramos era a Jornada da Juventude. Mas, a cada dois anos, ele seria celebrado num país do mundo. E eu estive presente nesses encontros. O primeiro seria, então, em Buenos Aires. Em Denver, nos EUA, a adoração que os jovens faziam era algo de uma beleza incrível. Aqueles jovens americanos tinham uma fé impressionante. Só não pude ir na de Filipinas. Desde então, esses encontros marcaram profundamente a minha vida como jovem e me deram mais desejo de me tornar sacerdote.

Por dentro da JMJ: Qual foi a JMJ mais marcante para o senhor?
Padre Jorjão: Foi a de Roma. Eu acho que foi a mais bonita de todas porque era um ano santo. Era algo de inesperado a todos nós: o ano 2000. O Papa fez questão de preparar o ano 2000 de modo muito solene. Havia toda a expectativa para aquele ano. Imagine você entrar na porta santa da Basílica de São Pedro no ano 2000. Dois mil anos celebrando o nascimento de Cristo. Era uma coisa linda porque os jovens tiravam as sandálias, beijavam o portal da porta santa, choravam. Aquelas bandeiras do mundo inteiro estavam lá na Coluna de São Pedro. Aquelas coisas me impressionavam. Eu me lembro que na véspera fiquei meio adoentado, com conjuntivite. Na sexta-feira, a médica me disse que eu não podia ir. Mas, eu falei “Eu vou!” e fui. E, impressionante, a conjuntivite desapareceu. Os jovens foram na frente, no sábado. Vi que na multidão não tinha telefone celular, e não sei como encontrei os jovens. Era um campus universitário. Foi uma experiência impressionante. Estava um calor de uns 44 graus. E, naquela JMJ, o Papa João Paulo II disse para os jovens: “Se vocês forem aquilo que devem ser, vão incendiar o mundo”.

Por dentro da JMJ: Por que os jovens devem participar da Jornada Mundial da Juventude?
Padre Jorjão: O jovem gosta de emoções fortes, como os esportes radicais. Busca sempre novas emoções. Mas, são emoções que passam. Ver um show do “U2” hoje, depois um show do Paul McCartney, depois outro show e outro show... Isso não tem como preencher a sede de sentido que ele tem no coração. A JMJ é uma emoção que não passa, mas permanece, que encontra Aquele que é o sentido verdadeiro, porque todo desejo, toda fome de existência tem uma motivação. Santo Agostinho dizia: “Senhor tu me criaste para Ti e meu coração está inquieto e encontra repouso em Ti”. Essa inquietude que o jovem tem, no fundo, é sede de Deus, como diz o salmo: “A minh'alma tem sede de Deus”. Quando ele encontra Deus em sua vida, ele encontra a emoção, que não é passageira, periférica e transitória, mas aquela que fica para a vida inteira, condiciona a sua existência e dá sentido a sua vida. Uma coisa é encontrar pessoas interessantes, que você acha legal, tudo bem, beleza. Outra coisa é encontrar a pessoa da sua vida, a mulher ou o homem da sua vida. Muda radicalmente. Mas, mesmo assim, o ser humano continua sedento. Porque o homem tem uma medida que somente Deus pode saciar. Quando ele olha as pessoas em Deus, ele sabe perdoar e aceitar as limitações e dificuldades, como ele também tem. Ou seja, só quando você coloca Deus no lugar dele, no centro do seu coração - “Amar a Deus sobre todas as coisas” - é que você vai amar as pessoas que fazem parte da sua vida. Enquanto o homem não encontra Deus, é um náufrago perdido em busca do porto seguro. É uma pessoa vazia, que não encontrou o seu norte. Só quando você encontra Deus é que sua vida ganha sentido de verdade. Então, essa experiência da Jornada vai ser uma grande oportunidade para os jovens encontrarem o sentido da sua vida. Vai ser uma emoção impressionante porque serão outros jovens que vão falar com o rosto e com a vida que encontraram esse sentido. Eu tenho certeza que vai ser uma experiência muito forte para as novas gerações.

Por dentro da JMJ: Qual o legado que a JMJ pode trazer para a cidade do Rio de Janeiro e para o nosso país?
Padre Jorjão: Pessoas renovadas, jovens que não vão envelhecer quando chegarem a minha idade, porque a gente é sempre jovem quando encontra o segredo da juventude verdadeira. É um desejo do ser humano ser jovem para sempre. A juventude é uma fase da vida, que passa. Mas, se você guardar o ideal dela, você será sempre jovem. A Jornada vai ser uma oportunidade desses jovens encontrarem o segredo da eterna juventude, que se encontra em Deus.

Por dentro da JMJ: E quais os resultados que a JMJ deixou na sua vida?
Padre Jorjão: A JMJ me deixou esse desejo de ser um padre que sempre se reinventa, sempre procurando ser um novo padre, com novos métodos, novos caminhos. Como João Paulo II, que aos 85 anos, era um Papa jovem e que ainda hoje é um símbolo para a juventude. Nunca me esqueço que, em Paris, o Papa estava doente. Havia dúvidas se ele viria ao Brasil. Dois anos depois apareceu numa revista: “O Papa João Paulo II vem ao Brasil”. Em Paris, aqueles jovens diziam: “Santo Padre, o senhor é nossa juventude!” De fato, durante mais de 10 anos, ele foi escolhido como a personalidade mais amada pela juventude européia. Um homem de bengala na mão, que balançava a bengala como “Carlitos”. Um homem jovem, que mostra que a juventude não é uma contagem cronológica da idade, mas um estado de alma. E era bonito ver na missa antiga em latim quando o padre subia no altar e dizia as palavras do salmo. Ele dizia “Eu subirei ao altar do Senhor. Ao Deus que alegra a minha juventude”. Aquele homem era um jovem que encontrou o sentido da vida dele e por esse sentido se consumiu até o final.

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